sábado, 23 de abril de 2011

Quinta dos Frades Grande Reserva Tinto 2008

Ontem tive o prazer de degustar um fantástico vinho do Douro, uma vez mais da autoria de Anselmo Mendes e João Silva e Sousa. Tal como o nome indica, o vinho resulta da vinificação de vinhas velhas da Quinta dos Frades, a mesma quinta que deu origem a outros dois vinhos que conheço bem e que aprecio bastante para a gama a que se destinam, o "Vinha dos Deuses" e o "Lua Nova em Vinhas Velhas", ambos feitos com as vinhas velhas da quinta. Sobre este este ultimo já escrevi neste blog, é um dos meus vinhos de eleição para o dia a dia e a um preço bem cordato.

A prova deste vinho aconteceu em circunstâncias particulares, a acompanhar um prato de bacalhau de um menu de degustação do restaurante Pedro Lemos (uma experiência gastronómica de elevadíssimo nível, já agora...), onde este vinho acompanhou em perfeição o prato, sendo um complemento perfeito para a harmonia de aromas e sabores do mesmo. Competentíssimo trabalho de escanção, não só por esta combinação...

Focando no vinho, garanto-vos sem qualquer presunção que se não o soubesse com antecipação seria capaz de se o identificar como sendo da dupla Anselmo Mendes e João Silva e Sousa. Exibe uma matriz, um perfil aromático e uma estrutura que começam a ser uma marca de identidade.

Grande volume e estrutura, taninos bem presentes mas redondos quanto baste, enorme intensidade mas elegante e com uma frescura fantástica, o que para um vinho com os atributos descritos não é fácil de conseguir.Final longo e persistente.

No nariz exibe notas de fruta preta bem madura muito bem combinada com notas de terra molhada e algum couro conferindo complexidade.

Um grande vinho, de uma quinta que começa a dar que falar e que aconselho vivamente.
Classificação: 18,5/20.

Boas provas...

Mário Rui Costa

sábado, 9 de abril de 2011

Visita às caves Messias e Graham's

Foi no dia 9 de Abril que fomos a Gaia numa visita organizada às caves. Messias de manhã, e Graham's à tarde.

Messias
Na Messias, visitámos vários edifícios, onde o espaço não abundava, atulhados de pipas, balseiros, garrafas. Tinham lá umas pipas interessantes de colheitas antigos, o Lança 1950 chamou-me a atenção. Estão a recomeçar a investir no vinho vintage, com o 2005, 2007, e provavelmente 2009. As uvas usadas nestes vinhos vêm de 3 quintas principais: do Cachão, do Rei, e do Rodo, sendo as quintas do Cachão e do Rei coladas.
Fizemos a prova numa sala alta com vista para o Porto.

Messias Vintage 2007
côr opaca ruby escura
nariz silvestre, cogumelos, chocolate
boca intensa, bem equilibrada
moderadamente longo

Messias Vintage 2003
côr opaca ruby
nariz com fruta madura, ervas
boca ligeiramente mais taninosa, mais magro
final mais longo

Messias Vintage 1984
côr ambar
nariz complexo, frutos secos, especiado
boca sedosa, algo acoólica
final longo, com ligeiro picante

Passámos em seguida para os tawnies com indicação de idade e colheitas.

Messias Tawny 10 Anos
côr ambar alaranjada
nariz tímido mas complexo
boca equilibrada, algo doce
final longo, picante

Messias Tawny 30 anos
côr mais clara, aloirada
nariz mais complexo, mas suave
boca elegante e sedosa
final muito longo

Messias Colheita 2000
côr ambar avermelhada
nariz complexo, mais fresco e exuberante, fruta madura
boca suave e rica
com longo final
bastante evoluído para a idade

Messias Colheita 1991
côr alaranjada
nariz muito intenso
boca muito equilibrada
final muito longo

Messias Colheita 1985
côr ambar, reflexos amarelados
nariz mais intenso, nozes
boca com alguma acidez a sobressair, melado
final bem longo

Messias Colheita 1977
côr aloirada, a fugir para o castanho, reflexos verde claro
nariz complexo e elegante, caramelo
boca muito elegante, com vinagrinho
final interminável, pica atrás da garganta

Messias Colheita 1963
côr ambar acastanhada, com reflexos esverdeados
nariz mais químico, cola branca
boca muito sedosa, grande acidez
grande final, dura e dura...

Provámos assim 9 vinhos, 3 vintages e 6 tawnies, dos quais destacaria os colheitas de 1977, 1963, e 1991, e também o vintage 2007. Muito bons vinhos. O colheita 1977 excelente.

Almoçámos bem no restaurante Porto Ibérico, perto da Graham's, onde curiosamente todos bebemos água (éramos 12), pois já sabíamos que a tarde prometia e não queríamos estragar o palato.

Graham's
Seguiu-se a visita às caves Graham's, do grupo Symington, acompanhados pelo simpático Raul, que com o seu entusiasmo nos ia contando histórias da casa, que tem 7 milhões de litros de vinho do porto armazenados naquelas caves, o maior stock do mundo.
Este grupo dispõe actualmente de 25 propriedades no Douro, correspondendo a 1300 ha de vinha, que são utilizadas para as marcas Graham's, Dow's, Warre's, Quinta do Vesúvio e Cockburn's.
Passeámos pela impressionante garrafeira de vintage da Graham's, onde repousam muitos milhares de garrafas, desde 2007 até 18...
A prova foi realizada ao balcão, com o barman Raul a ir servindo com orgulho as garrafas que tinham sido abertas previamente, tendo-nos sido disponibilizado um copo para cada uma. O balcão tem uma faixa de luz branca que por baixo dos copos dá para ver bem as diferenças de côr. Tratamento de luxo.

Começámos logo pelo Graham's 30 anos
côr aloirada, caramelizada
nariz complexo, suave, frutos secos
boca muito bem equilibrada
final muito longo

Graham's 40 anos
côr equivalente
nariz mais complexo, mas menos exuberante, mais elegante
boca mais melada
final menos longo

Warre's Colheita 1937
(utilizado no Optima 20 anos, não se encontra à venda)
côr mais acastanhada
nariz intenso, madeira, especiarias, iodo
na boca mostra uma acidez incrível
final interminável

Graham's Colheita 1961
(amostra engarrafada há duas semanas, edição limitada)
côr aloirada acastanhada
nariz modesto, elegante
boca correcta
final longo

Passámos em seguida para os vintages, os melhores vinhos da casa segundo o nosso anfitrião.

Graham's 1963
côr ambar, ainda com tons de vermelho
nariz complexo, fruta passada
boca muito sedosa, ainda com o alcool presente
final mais longo de todos, nunca mais acaba

Graham's 1970
côr ambar
nariz complexo, fruta madura, passa
na boca sobrepõe-se o alcool
final muito longo

Graham's 1980
côr ruby clara
cheira a vindima, a adega, a fruta ainda fresca, marmelo
boca equilibrada, ainda fresca
final moderado

Vesúvio 1994
côr ruby
nariz exuberante, muita fruta
boca mais vínica, muito rico e equilibrado
final enorme, entranha-se nas gengivas

Graham's 2003
côr retinta opaca
nariz frutado, achocolatado
taninos bem polidos
bom comprimento

Vesúvio 2008
côr roxa opaca
nariz bomba de fruta
muito concentrado na boca
bom final

De destacar, por esta ordem: Warre's colheita 1937, Graham's Vintage 1963, Vesúvio 1994, Graham's 30 anos.

Calhou neste dia provar dois vinhos do ano mítico de 1963, talvez o melhor ano de porto do século passado, vinhos estes que se começam a aproximar dos 50 anos de idade. São mesmo muito bons, sobretudo pelo seu final de boca interminável. Mas para mim a estrela do dia foi o Warre's colheita 1937, um vinho enorme em todos os aspectos.


Grato ao Portuguese WineBloggers pela organização, e às caves Messias e Graham's que nos receberam tão bem, dando-nos a provar alguns dos seus mais preciosos nectares.

Bem hajam.
Frederico Santos