segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Faz 4 anos, 3 meses e 12 dias que abrimos esta tasca, estamos todos de parabéns :-)

Hoje deu-me para isto, para comemorar o quarto aniversário e uns trocos do blog "3 nos copos". Para ser correcto devo lembrar que começou com outro nome "ptin vino veritas", uma espécie de trocadilho com a expressão "in vino veritas" devido ao facto de todos os autores do blog trabalharem na PT Inovação em Aveiro (PTIN).

O blog começou com muito humildes intenções, aproveitar o meio para divulgar por todos os resultados das provas que íamos fazendo. Provas estas que começaram com umas trocas de ideias sobre vinhos que eu, o Carlos e o Frederico ia-mos trazendo para a PT Inovação para uns lanches mais "apimentados".

O blog lá começou em 18 de Outubro de 2006 numa "prova magnifica" sobre vinhos do Dão, sendo que 4 dos 5 vinhos em prova eram do Álvaro de Castro.... grandes malucos :-) . E assim continuou de prova em prova, crescendo em sofisticação, diversidade, abrangência geográfica, número de convivas, envolvimento de produtores "muito boa onda" até chegarmos onde estamos... exactamente no sítio de onde partimos. Paradoxo? estagnação? nada disso...

Começamos (falo por mim e acho que o Carlos e o Fred concordarão) com a intenção fundamental de desfrutar na companhia dos amigos do imenso prazer que a degustação de bons vinhos nos dá, de usar os eventos como pretexto para convivermos (beber uns copos), de ganharmos a dimensão em número de convivas que nos permitisse a todos provar vinhos mais caros, que não teríamos a oportunidade/vontade de provar em outras circunstâncias. Em suma, de partilharmos e envolvermos os nossos amigos numa paixão comum, o vinho, o produto do homem que melhor traduz a comunhão em equilíbrio do homem com a terra, com o meio.

Passado este tempo, estamos todos (os 3 nos copos e restante convivas) mais cultos, sabidos, experientes e sensíveis às múltiplas manifestações sensoriais que o vinho exprime. E estamos também todos mais amigos.
Isto é a tradução directa da riqueza que esta actividade tem tido para mim. E estamos exactamente no sítio de onde partimos, pois claro, felizmente não alteramos em nada os nossos princípios e motivações. Graças a Baco :-).

Mário Rui Costa

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Visita à Herdade das Servas



Foi no dia 20 de Janeiro de 2011 que nos deslocámos à Herdade das Servas, perto de Estremoz, para uma apresentação vertical dos seus monovarietais de Touriga Nacional, desde 2003 a 2008 (excepto 2007), o convite incluia transporte do Porto, e pratos assinados pelo chef Augusto Gemelli especialmente para cada vinho. Irrecusável.

Esta casa, apesar de ter a tradição de várias gerações ligadas ao vinho, apenas a partir de 1999 se lançou no mercado com esta marca. Desde então os vinhos Herdade das Servas têm-se afirmado de forma sustentada no mercado pela sua qualidade consistente de ano para ano, cobrindo já uma vasta gama, mas ainda à procura do seu vinho de topo, que nos confessaram que ainda não encontraram apesar de até já ter marca definida.
Esta atitude de insatisfação perante a qualidade dos seus vinhos, procurando sempre fazer melhor, explica o sucesso deste grande projecto que gere já cerca de 200 ha de vinha.

A adega, situada na Herdade das Servas está equipada com a mais moderna tecnologia, dando origem a tintos, brancos e rosés, sob as marcas Herdade das Servas, Monte das Servas e Vinha das Servas. Têm plantadas uma grande variedade de castas, variedade essa aumentada com numa nova vinha de 2007.
São quinze as castas plantadas actualmente: nove tintas (Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Aragonez, Castelão, Petit Verdot, Syrah, Touriga Nacional, Trincadeira e Vinhão) e seis brancas (Alvarinho, Antão Vaz, Arinto, Rabo de Ovelha, Roupeiro e Semillon).
Após uma longa viagem, mais rápida que o esperado, fomos os primeiros a chegar por volta das 11 da manhã e fomos muito bem recebidos por Luis Mira, a quem mais tarde se juntaram o irmão Carlos Mira e o enólogo Tiago Garcia.
Esperámos um pouco que chegasse o pessoal de Lisboa, enquanto aproveitávamos a paisagem relaxante do Alentejo, por entre talhas e oliveiras centenárias.



Após a chegada de todos, serviram umas tapas alentejanas, de bom chouriço e queijo, acompanhadas com o vinho Monte das Servas Branco Colheita Seleccionada 2009.
Agradou muito este branco, com nariz intenso e frutado. Na boca estava muito bem equilibrado, intenso e elegante, com um final persistente.
É feito com 70% de Roupeiro de vinhas com 55 anos, e mais 3 castas, 10% de cada. Julgamos que estas castas adicionais vão variando de ano para ano, tendo ficado a impressão de que são muito abertos a experiências com outras uvas, apesar de darem prioridade às castas nacionais típicas da região. Logo à entrada têm um canteiro com um cordão rotulado de cada casta, onde ficámos surpreendidos por encontrar a uva Alvarinho tão a sul.

Seguiu-se uma visita à adega, onde se via muito equipamento em inox, desde os lagares, as cubas, o tapete rolante para separação das uvas, os passadiços, enfim, uma adega muito bem equipada. Fomos à cave, onde repousam as pipas de boa madeira. Passámos ainda pela secção de engarrafamento que estava a funcionar em pleno, com 3 ou 4 pessoas de volta da máquina a controlar manualmente todo o processo apesar da máquina ser bastante automática.

Após esta visita às instalações, seguiu-se o almoço, que teve uma apresentação prévia de Augusto Gemelli, que com a sua presença imponente explicou à audiência atenta os pratos que ia apresentar para cada vinho.

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TN 2003
Carpaccio de espadarte marinado sobre creme de grão de bico ao cominho, tomatinhos no forno e azeite de rucola

Frederico Santos - 17
  • côr carregada e opaca, dificil dizer se é granada ou ruby
  • nariz frutado qb, algo vegetal, tabaco
  • boca redonda e cheia, elegante
  • final longo
  • não esperar muito no copo
Carlos Amaro -17
Aroma floral, à Touriga Nacional, com grande intensidade. Fruta e especiarias, chocolate preto , e um toque vegetal dão ao nariz bastante complexidade.
Boca elegante, frutos vermelhos, especiarias, floral e novamente notas verdes. Final longo e um pouco apimentado. Penalizado apenas por algum excesso de álcool no final de boca.
Acompanhou de modo excelente e surpreendente o carpaccio de espadarte, com o creme de grão a fazer o contraponto necessário ao vinho.

TN 2004
Polvo Caramelizado e fumado em cama de "pappa" de tomate e hortelã, perfume de trufa branca

Frederico Santos - 17,5
  • côr opaca, equivalente ao primeiro
  • nariz floral, menos complexo
  • muito bom na boca, com menos alcool, bom final
  • após uns minutos o nariz melhorou
Carlos Amaro - 17,5
Mais fechado ao inicio do que o 2003, mas depois abre-se num belíssimo floral. Fruta e especiarias aparecem de seguida, mais um fundo vegetal.
Boca excelente, com fruta madura, equilibrado, excelente acidez a dar o equilíbrio certo. Muito fresco. Final de extrema elegância e muito longo.
Para mim o melhor vinho em prova.

TN 2005
Ravioli de massa de espinafres recheados com farinheira de presunto e azeitona, espelho de "pesto" de manjericão e queijo Pecorino jovem

Frederico Santos - 16,5
  • côr opaca com tons de violeta
  • nariz muito frutado
  • boca redonda e correcta
  • final prolongado
Carlos Amaro - 16
Aroma muito fresco, focado nas componentes vegetais. Frutos vermelhos e chocolate de leite.
Boca mais quente, frutos do bosque, especiarias. Bom comprimento de boca. De todos os vinhos foi o que menos me pareceu Touriga Nacional. Taninos mais duros, mas bem integrados.

TN 2006
Lombinho de Porco corado na salva com "risotto" de barriga fumada, batata nova e alecrim

Frederico Santos - 17,5
  • côr roxa opaca
  • nariz complexo, aromas herbáceos
  • boca redonda e muito equilibrada
  • deixa boa recordação
Carlos Amaro - 16,5
Muito vegetal, mais contido no nariz. Floral, especiarias.
Taninos bem presentes, boa acidez, chocolate, frutos vermelhos, muito vegetal na boca, noz moscada.
Ainda algo fechado, mas prometedor

Mário Rui Costa - 16,5
Finalmente degustei a garrafa que os meus amigos me trouxeram da HS. Apenas como complemento das vossas notas, realçava que o nariz não sendo muito aberto é no entanto muito bem definido dando grande agrado, se dermos a atenção devida à prova olfactiva. Na boca concordo em pleno com a nota do Carlos, principalmente nas notas vegetais conjugadas com algum fruto vermelho (menos presente que o vegetal), tudo temperado com notas de noz moscada, que predomina no fim de boca e acaba por ficar como o paladar dominante deste vinho. Eu aprecio, mas quem não gostar de noz moscada não acredito que goste deste vinho :-)

TN 2008
Frederico Santos - 16,5
  • côr violeta carregada
  • nariz frutado, vegetal
  • boca equilibrada, ligeiro tanino
  • precisa de mais tempo em garrafa
Carlos Amaro - 17
Este vinho ainda não está no mercado, mas gostei muito, está muito prometedor.
Cor lindíssima violeta. Aroma muito fechado inicialmente, mas nota-se algum floral, frutas e especiarias.
Frutos do bosque na boca, vegetal, especiarias, aromas de bosque.
Taninos ainda por polir, mas promete muito.

Para sobremesa, comeu-se um Bolinho de maçã e caril com molho de caramelo e chocolate branco, que foi acompanhado por um simpático Licoroso Herdade das Servas.
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Muito bons vinhos, intensos e elegantes, carnudos, não hesitei em pontuá-los com cerca de 17 na escala de 1 a 20. Só não dando mais por não ser grande apreciador de touriga nacional na versão monocasta, cujos vinhos tendem ser um pouco frutados demais para o meu gosto. Mas estes apresentaram-se muito equilibrados e bem conseguidos, e com muita juventude contrariando a crença de que os vinhos alentejanos não têm potencial de envelhecimento. Incrível a côr do de 2003, já a caminho dos 8 anos parece a côr de um vinho bastante mais jovem.
Fiquei com vontade de provar os reservas, que para além da touriga, levam também alicante e outras. Será uma boa desculpa para lá voltar.
Frederico Santos
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Em conclusão, um excelente dia de provas, com belos vinhos a acompanhar um grande almoço.
Provou-se aqui que a Touriga Nacional também consegue ter excelente qualidade no Alentejo. Vinhos potentes, carnudos, muito gulosos. Preços bastante sensatos.
O 2003 e 2004 surpreenderam-me especialmente, pela qualidade que apresentam agora.
O 2008, ainda muito novo, mostra grande potencial.
Fiquei com vontade de voltar a esta Herdade das Servas, e provar mais alguns dos seus vinhos.
Carlos Amaro

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Reserva Especial Ferreirinha 2001

O Reserva Especial, é desde a sua criação, um dos grandes clássicos vinhos portugueses.
Após anos de espera, para decidir do seu lançamento como Barca Velha ou Reserva Especial, ele é sempre um vinho único, lançado no mercado já após um longo estágio em cave.
Mesmo tendo sido "despromovidos" e não seleccionados como Barca Velha, os vinho lançados como Reserva Especial normalmente são grandes vinhos, e este 2001 não foge à regra.

Passando à sua apreciação, está um grande vinho.
Cor intensa e concentrada, apesar dos 9 anos de idade. Grande complexidade no nariz, com frutos vermelhos, muitas especiarias, chocolate e algum mineral. Muito elegante.
Na prova de boca, belo corpo, muito balsâmico, fruta madura, mineral e especiado. Grande estrutura, muito boa acidez, num final muito longo.
Em suma, grande vinho. Talvez dos Reserva Especial que mais prazer me deu beber, na minha opinião acima do 1997, também bebido recentemente.

Nota:18

Carlos Amaro

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Lokal Silex 2008, Bravo!!!

Bravo, torno a dizer, que magnifico prazer foi a degustação deste vinho.
 
Ainda ontem, ao comentar um post referi que foi a zona do Dão a primeira a causar uma forte impressão quando comecei a ter algum interesse no mundo do vinho. Então, deparei-me com alguns vinhos que misturavam frescura, elegância e corpo de uma forma única e que achei muito apelativa. Passaram-se anos de travessia de deserto na região, ninguém percebia a estratégia da região que se descaracterizava dia após dia, ao mesmo tempo que o Douro (nos vinhos de mesa) e o Alentejo ganhavam protagonismo.
Nos últimos tempos sinto (pela desgustação claro está) ventos de mudança, no meu top 2010 essa sensação fica bem expressa, e este Lokal Silex fechou para mim o ciclo, avivando memórias do "tal perfil". E causou-me surpresa porque vem de uma enóloga (Filipa Pato) cheia de talento mas oriunda de uma outra região, a Bairrrada.


Focando no vinho, é feito de Touriga Nacional e Alfrocheiro, transpirando frescura logo no aroma, dominado pelo floral típico da expressão da Touriga no Dão (para mim diferente da expressão no Douro ou outras zonas do país), também com alguma fruta fresca e tosta residual. Na boca permanece fresco, com a fruta viva e com taninos domados, o que confere delicadeza.

Degustado agora está óptimo para consumo, e neste caso em particular tenho dificuldade (por incompetência minha claro está) em vaticinar a sua longevidade (já agora, a maior parte dos entendidos faz pura adivinhação), se calhar é por estar tudo tão bem casado já em novo...

Pontuação: 17,5 / 20
Nota: um amigo meu disse-me que como dou sempre notas altas, sou um gajo que gosto de tudo :-) . Compreendo a crítica, mas isso tem uma justificação: não tenho o hábito de publicar sobre vinhos que me desagradam ou que não me impressionam de todo. Excepção feita a provas de amostras fornecidas por produtores, se não gostar não vou fazer o jeito...

Boas provas,

Mário Rui Costa

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Paço dos Cunhas de Santar, Vinha do Contador

Nos últimos tempos, tem sido com grande agrado que vejo novamente grandes vinhos a sair da região do Dão, quer através de casas mais clássicas, quer com pequenos novos produtores que estão a colocar de novo na liderança dos vinhos portugueses uma das minhas regiões favoritas.
Isto tem sido especialmente verdade para os vinhos brancos. Alguns dos melhores brancos nacionais dos últimos 2, 3 anos vêm do Dão, com os vinhos da casta Encruzado na frente do pelotão, mas vinhos de lote também muito bons (com a Malvasia Fina e Cerceal a darem cartas também)

Falando agora do vinho provado, vem do Paço dos Cunhas de Santar, pertencendo estas vinhas ao grupo Dão sul, um dos grupos responsáveis por este ressurgimento do Dão.
Garrafa pesadíssima, numa embalagem de algum luxo, a indiciar as pretensões a voos altos deste vinho.
Nariz complexo, com notas elegantes de tostados, na companhia de algum floral, fruta tropical, especiarias, num aroma cheio e mineral.
Boca com grande estrutura e muita elegância, tem uma excelente acidez, muita frescura e bastante frutado. Final muito longo, num grande equilíbrio.
Foi um vinho que me agradou muito, com estrutura para proporcionar boa prova por mais uns anos, um branco muito personalizado.
Entrou no meu top de vinhos de 2010.

Enólogo: Carlos Lucas
Castas: Encruzado, Cerceal, Malvasia Fina
Graduação: 14º
Preço: 17€
Nota: 17.5

Carlos Amaro