terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Restaurante Foz Velha

Já há bastante tempo que tinha vontade de ir experimentar o restaurante Foz Velha, e finalmente proporcionou-se essa ida no dia 8 de Janeiro. O Foz Velha é um dos raros restaurantes do Porto onde a unanimidade da crítica tem sido uma constante. Muito raramente vi uma crítica negativa, ou li algo que tenha corrido mal. Portanto, ir lá, era algo que queria há algum tempo.

O Foz velha tem dois Menus de degustação, a hipótese de comer à carta, ou o que eles chamam Menu completo, constituído por cada um dos 3 momentos da carta, entrada, prato principal e sobremesa. Desta vez e decidimos que os menus de degustação ficarão para outra visita, sendo que neste dia a escolha recaiu no menu completo, e mais uma entrada adicional, com os cumprimentos do chefe.

Outra nota digna de menção: aceitam o sistema byob(bring your own bottle), com uma taxa de rolha de 5€, o que me parece justo.

Ao sentar, foi oferecido um competente Kir Royal, uma nota simpática que se tornou numa bela companhia para o couvert. Este era constituído por uma boa selecção de pães que passou pelo pão de Mafra, da Alfândega da Fé, de queijo e de cereais, com uma manteiga (clarificada) muito cremosa, uma pasta de azeitona optima e uns grissinis caseiros.

Os pratos provados foram os seguintes:

Bombom de Morcela com Maçã confitada em redução de vinho do porto. Um começo logo em grande. A morcela de boa qualidade, envolta em polme, formando um bombom estaladiço, com um acompanhamento da maçã em pedaços e da redução de porto.A conjugação de sabores aqui esteve perfeita, com o doce da maçã e vinho do porto a darem o contraste perfeito ao sabor forte da morcela. Este prato foi com os cumprimentos do chefe.
Camarão Salteado na Caçarola com finas tostas. Uma ligação interessante e uma bela apresentação. As tostas chegam em separado, chegando depois os camarões numa pequena terrina. Apresentaram-se descascados, carnudos e consistentes, num molho muito bem apaladado que foi uma boa companhia para as tostas.
Vieiras na chapa com puré de aipo e creme de agrião. Neste prato, destacou-se o sabor delicado a mar das Vieiras, carnudas, altas, tenras e no ponto certo, apenas douradas, como que vidradas. Acompanhadas de um puré de aipo muito saboroso e um creme de agrião a dar o contraste ácido ao prato. A ligação geral do prato foi muito boa, embora o ácido do agrião não fosse consensual.


Até aqui o menú foi acompanhado com um Catarina 2007, a copo, que se apresentou excelente.

Shot de granizado de abacaxi com menta. Limpa palato agradável para passar às carnes


Lombinho de Porco Bísaro envolto em batata rosti com esparregado. Talvez o prato menos conseguido da noite, mas ainda assim podendo ser considerado bom.A carne do porco, apesar de saborosa apresentou-se um pouco seca demais para o meu gosto. Acho que teria ganho com um pouco menos de tempo no forno.Já as batatas rosti e o esparregado estiveram a um muito bom nível, com as batatas a compensarem a secura da carne.
Cachaço de porco preto em açorda aromatizada com poejo e grabanços. Para mim o prato da noite. O cachaço de porco preto cozinhado no ponto perfeito, com a carne a desfazer-se, muito saborosa. Vai certamente ficar-me na memória.A açorda numa harmonia muito boa com a carne, o grão e o poejo a fornecerem uma bela nova interpretação a um clássico. Numa palavra: Excelente.
Fondant de Chocolate Morno com gelado de frutos silvestres. Uma sobremesa que começa a ser moda em muitos restaurantes, aqui surgiu irrepreensível, acompanhada de um bom gelado de frutos silvestres, a dar frescura ao conjunto.
Queque morno de noz com espuma de ovos-moles e gelado de vinho do porto. Mais um momento alto, o final optimo para a refeição. O queque muito bom, com a espuma de ovos-moles não demasiado doce e o gelado de porto a dar equilibrio a uma bela sobremesa.

Nos últimos pratos, bebeu-se um Aveleda Follies Touriga Nacional 2005.Acompanhou muito bem as carnes e sobremesas. No nariz notei notas de cereja e chocolate, bem integradas com notas de madeira. Na boca muito encorpado, sobressaindo notas de frutos pretos e especiarias.Final de boca muito longo.


Sem dúvida, uma das melhores refeições que tive, em restaurante. Será de certeza uma experiência a repetir. Confirmou-se o que se esperava, um grande restaurante, com um serviço à mesa de grande nível.

Carlos Amaro

domingo, 17 de janeiro de 2010

Festival Côtes du Rhône

Este festival, organizado pela Niepoort na Quinta de Nápoles, com a participação de Fritz Haag e os "Douro Boys", foi o sonho de qualquer enófilo.

Vou tentar fazer um apanhado dos vinhos que consegui provar, o que não é tarefa fácil, pois haviam centenas de vinhos à disposição de quem tivesse capacidade para os beber, e ao final do dia já me encontrava bastante entornado.
Passados alguns dias ainda não estou completamente recomposto da experiência, e adianto ainda que os vinhos do Rhône eram até agora desconhecidos para mim.
Vamos lá então que isto vai ser uma epopeia épica...

À chegada, deram-nos um copo e uma capa com fichas dos muitos produtores presentes, um lápis para tomar notas de prova, e um crachá também.
Estávamos assim armados e prontos para a maratona que nos esperava.

Descemos à parte de baixo da adega, onde encontrámos os produtores do vale do Ródano:

Chateau Revelette, da denominação "Coteaux d'Aix en Provence", bem ao sul perto de Marselha.
Provámos o "Le Grand Rouge", feito com 50% Sirah, Grenache e Cabernet.
Um vinho intenso, talvez um pouco demais para o meu gosto.

Seguiu-se o Domaine Alain Graillot, mais a norte. Provei um Crozes-Hermitage 100% Sirah, que era bastante frutado, boa fruta mas demasiada para mim.

Domaine Alain Voge, foi um dos meus preferidos.
Adorei o branco "Fleur de Crussol 2007" da região de Saint Péray, feito com 100% Marsanne.
O tinto Cornas 2007, 100% Sirah, tambem estava muito bom, mais equilibrado, agradou-me mais que os 2 anteriores.

Domaine Beaurenard, conduzido pelos 2 irmãos Daniel e Frédéric Coulon, tem um excelente Chateauneuf du Pape que se chama Boisrenard, feito com nada mais nada menos que treze castas (Grenache, Sirah, Mourvèdre, Cinsault, ...). Uma das 3 vinhas usadas tem um século. Um prazer para os sentidos.
O branco do mesmo nome tambem era muito bom, feito com 6 castas.

Domaine Chèze, regiões Condrieu e Saint Joseph.
O tinto 100% Sirah era bom mas não me impressionou muito.
Gostei mais do Saint Joseph Blanc, feito com 60% Marsanne e 40% Rousanne.

Domaine Combier, com uma preocupação constante com o ambiente, tem certificação Ecocert nas suas vinhas, que estão sob protecção integrada desde 1970.
Gostei muito dos tintos 100% Sirah de Crozes Hermitage, principalmente o "Clos des Grives" feito com uvas de vinhas com mais de 50 anos.

(por volta desta altura desisti de provar brancos, infelizmente, pois apesar de muito bons estavam-me a baralhar os paladares)

Domaine Courbis, regiões Saint Joseph e Cornas.
Tintos 100% Sirah.
Gostei muito do Saint Joseph 2007 que estava muito equilibrado e redondo na boca.
O Cornas era mais adstringente, o que talvez não seja mau com uns anitos na garrafa.

Domaine de Deurre, tinha 3 vinhos em prova, e o que me agradou mais foi o Cuvée Saint Maurice (70% Grenache, 30% Sirah).
O "Les Oliviers" 100% Sirah de vinhas com 40 anos também estava muito bom.
O "Les Rabasses" quase 100% Grenache, com uns pozinhos de Mourvèdre, de vinhas com 50 anos, não gostei.
O senhor Hubert tem um sorriso contagiante.

Domaine de la Citadelle, região Côtes du Lubéron.
Têm um vinho excelente, que é o "Le Governeur 2005", de vinhas velhas, feito com Sirah, Grenache e Mourvèdre.
O tinto "Les Artemes 2005" (50% Sirah, 50% Grenache) também é muito bom, mas não tanto como o Governeur.

Domaine de la Janasse, Chateauneuf du Pape.
Provei um vinho 100% Grenache com 15.5% de alcool. Era bom, e o alcool não se sentia nem no nariz nem na boca, mas não foi dos meus preferidos.

Domaine Delubac, denominação Côtes du Rhône Village Cairanne.
Achei os vinhos muito taninosos, devem ser bons para guardar.

Domaine François Villard, regiões Condrieu, Saint Joseph e Côte Rôtie.
François Villard, de baixa estatura, estava escondido entre as pipas, e por pouco me escapava.
Gostei bastante do "Seul en scene 2007", 100% Sirah, mas o que mais me agradou foi o Saint Joseph tinto "Reflet", também 100% Sirah de parcelas de solo granítico.

Domaine Yves Cuilleron, regiões Condrieu, Saint Joseph, Côte Rôtie.
Grandes vinhos.
Saint Joseph 2007 (Sirah), muito bom.
Côte Rôtie 2007 (Sirah), excelente.
Condrieu 2008 (Viognier), fantástico.
Ainda bem que decidi provar este branco sublime.

Domaine Gerin, regiões Côte Rôtie, Condrieu, Saint Joseph.
Provei o Côte Rôtie (90% Sirah, 10% Viognier), que não me entusiasmou por aí além, apesar de ser um vinho muito bom.

Seguiu-se uma rápida incursão pelos Douro Boys, onde me agradaram mais:
- Batuta
- Quinta do Crasto - Vinha Maria Teresa
- Quinta do Crasto - Vinhas Velhas
- CV
- Quinta do Vale Meão
Julgo que eram todos de 2007.

Domaine Clape, denominação Cornas.
Encontrava-se ao lado da banca da Niepoort, em lugar de destaque, e não era por acaso.
Depois de ter provado todos aqules Sirah, qual não foi o meu espanto ao deparar-me com um ainda mais complexo, mais elegante, mais tudo.
- Renaissance 2007 (vinhas novas), muito bom.
- Cornas 2007 (vinhas velhas), superou tudo.
Que maravilha de vinhos.

Ainda voltei à banca da Niepoort para provar o Domaine Jamet, cujos Côte Rôtie não desapontaram mesmo após a prova do Domaine Clape, estavam à altura.

Entretanto chamaram para o almoço, e já não fui aos brancos de Fritz Haag.
Um crime, bem sei, mas estas coisas não se pode ter tudo, e não queria perder aqueles aromas e sabores de bons Sirah, que ainda estavam presentes nas minhas papilas gustativas, enquanto imaginava como ficariam estes vinhos com 10 anos em garrafa.

O almoço foi servido numa mesa corrida, que me pareceu ter o comprimento de um campo de futebol. Estavam ali centenas de pessoas, tudo já muito bem disposto, claro.
Começou com uma açorda de alheira, seguida de um bife com puré de espargos, e a sobremesa era uma espécie de crepe recheado com leite creme acompanhado de pedaços de frutas exóticas. Tudo muito bom. A carne nem precisava de faca.
As garrafas magnum circulavam abundantemente, com os próprios produtores a colocarem-nas em cima da mesa.
À minha frente estava um casal que julgo que era da quinta do Vale Dona Maria, e o CV 2003 não tardou em aparecer na sua versão Magnum. Um vinho magnífico em todos os aspectos.
Ao meu lado sentou-se o senhor Pierre Clape, logo o produtor do vinho francês que mais me agradou, com quem aproveitei para desenferrujar o meu francês e aprender umas coisas sobre vinhos.
Conversámos bastante (devo ter sido um chato do caraças), e uma das coisas que retive foi que para ele o mais importante era o cuidado das vinhas, o que para mim fez todo o sentido, pois tal como na culinária quando os ingredientes são bons é fácil fazer um bom prato, se as uvas não forem boas bem podem dar voltas na adega que nunca sairá um vinho de topo.
O vinho corria a rodos, eram magnuns atrás de magnuns, Charme 2006 (excelente), um Cornas do Domaine Clape já não sei de que ano (2001, talvez), Redoma branco 94 e 95 decantados com os seus tostados fabulosos. Essas são as que me lembro, mas ao longo da mesa era um festival de magnuns para quem se quisesse levantar e procurar.

Entretanto Dirk Niepoort faz um curto discurso, anunciando que ia servir um porto garrafeira de 1931, ao que todos aplaudiram com entusiasmo.
Seguramente um dos melhores portos que já provei, castanho carregado, de aromas muito intensos, uma complexidade infindável. Na boca era sedoso e ainda muito vivo, com o alcóol ainda presente mas de uma suavidade extrema.
Para quem não sabe, o garrafeira é um estilo de porto que hoje em dia já não se faz, e cujos garrafões de 7 a 11 litros onde envelhece (demijons), são guardados nas caves como um verdadeiro tesouro.
É daquelas raridades que só se provam uma vez na vida, ainda por cima o garrafão foi aberto na altura, vindo ainda com mais intensidade aromática do que se o vinho já tivesse sido engarrafado.
Já uma vez tinha bebido um garrafeira de 1977, mas assim um com quase 80 anos acabado de sair do "demijon" foi uma coisa mesmo muito especial.


Depois deste garrafeira, ainda provei um vintage 1983, que estava excelente.

O vinho continuava a circular, as garrafas não paravam de ser abertas, e eu decidi ir andando pois já estava a atingir os meus limites.
No dia seguinte ainda me sentia ligeiramente alcoolizado.

Parecem muitos, mas estes vinhos que relatei aqui foram só a ponta do iceberg, pois para quem lá passou o fim-de-semana, foram muitos mais, e cada um melhor que o outro.

Só mesmo uma personalidade como Dirk Niepoort para proporcionar um evento desta categoria, de forma gratuita, para centenas de pessoas.
Só mesmo uma grande paixão pelo vinho, para proporcionar momentos destes, de puro extase enófilo.

É talvez o post mais longo que escrevi, mas havia tanto mais para dizer...

Frederico Santos

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Athayde Grande Escolha 2007


Viva,

Quero dar relevo a um tinto alentejano que provei no início deste ano, de um produtor que desconhecia (coisa fácil nos dias que correm), Monte da Raposinha, e de um enólogo também para mim desconhecido, Carlos Magalhães.
O vinho vem de Portalegre, no norte do Alentejo, uma zona tipicamente mais fresca e temperada do que o restante Alentejo, sendo este um aspecto que deixa marcas evidentes no perfil do vinho.

Não é de facto um Alentejo tinto típico, é um vinho com muito boa acidez, elegante, com bom equilíbrio (embora um dos "provadores" tenha teimado na madeira nova em excesso, coisa que não me pareceu de todo) e acima de tudo com um perfil aromático e prova de boca mais novo mundo do que Alentejo.

Como nota resumida de prova:
  • Feito com as castas Touriga Nacional (não dei por ela, deve ser em quantidades pequenas), Syrah, Alicante Bouschet e Aragonês
  • Frutos vermelhos casados com alguma menta e baunilha num aroma muito sedutor e expressivo, sendo este um dos pontos bem agradáveis neste vinho
  • Na boca domina a fruta (excepto para o cromo obcecado com a madeira) e no final o cacau, neste aspecto um pouco colado de mais ao gosto universal :-)
Este vinho é menino para os seus 20€, merece uma prova e como remate final direi que é um bom vinho, que enriquece e complementa a oferta da região.

Boas provas,

MRC