sábado, 12 de março de 2011

ANDRESEN - Prova Vertical de Colheitas Inesquecíveis

1997, 1995, 1992, 1991, 1982, 1980, 1975, 1970, 1968, 1963, 1937, 1919, 1900...

Este post foi dos mais dificeis de escrever até hoje. Comecei e recomecei uma série de vezes e nunca me parecia bem.
A dificuldade criou-se porque numa prova desta qualidade torna-se dificil descrever tudo o que foi provado e sentido. Foi algo realmente inesquecível.

A prova foi efectuada no dia 5/03 durante a Essência do Vinho, na sala dos retratos. Deste blog estivemos presentes eu e o Frederico.

Fui para esta prova com expectativas muito elevadas e com a noção de que dificilmente voltaria a ter oportunidade de provar muitos destes vinhos, já que vários sendo autênticas raridades, ficam fora de alcance da maioria das bolsas.
E o que posso dizer é que as expectativas foram mais do que superadas. Na realidade foi um turbilhão de experiências gustativas que fica na memória e torna-se difícil de descrever.

Passando aos vinhos, segue a descrição possível.
De notar apenas que todos os vinhos foram engarrafados para o evento, com excepção do 1937, que foi engarrafado em 1980.
São assim vinhos que têm todos estes anos passados em barrica.

1997
É um colheita ainda muito novo, não tendo ainda muitas das características típicas de um tawny com idade. Aroma com alguns frutos secos, apresentando ainda notas de compota, alguma fruta fresca e notas balsâmicas.
Está muito vigoroso e fresco. Na minha opinião mostra qualidades que permitirão vir a ser um grande colheita.
Carlos:17

1995
Menos exuberante do que o anterior, é um vinho com grande elegância e frescura.
Aromas a frutos secos, casca de laranja e algum floral. Notas iodadas. Final longo.
Carlos: 16.5

1992
Aqui já começam a surgir as características mais típicas dos colheitas. Notas iodadas, frutos secos, nozes, bela acidez, a dar-lhe frescura.
Algum caramelo na boca, com notas balsâmicas a ajudarem à complexidade. Muito bom.
Carlos:17

1991
A complexidade aromática continua a subir. Os frutos secos estão lá, mais notas balsâmicas, casca de laranja.
Muito glicenerado, excelente acidez, é um vinho extremamente elegante, com grande volume de boca. Grande final.
Muito bom vinho. O que gostei mais dos da década de 90.
Carlos: 17.5

1982
Mais um vinho de grande elegância, notas dominantes de frutos secos, notas de mel e especiarias. Muito boa acidez.
Vinho muito apelativo e fresco, final longo.
Carlos:17

1980
Daqui para frente os tons de cor começam a ficar mais acastanhados.
Aroma muito vivo, notas de caramelo e especiarias, frutos secos. Muito sedutor.
Grande boca, untuoso, quase mastigável. Enorme estrutura. Muito fresco e com um longo final.
Carlos: 18

1975
Adorei este vinho. O mais elegante de todos em prova (talvez tirando o 37).
Muito boa acidez, delicado, floral, laranja cristalizada e frutos secos.
Final longo, e elegantíssimo.
Carlos: 18

1970
A partir daqui é que as coisas começam mesmo a ficar especiais. Vinho fantástico. Já mais escuro na cor.
Bastante exuberante e apelativo no nariz, com notas de caramelo e frutos cristalizados.
Boca fantástica, muito potente, grande estrutura e muito guloso. Grande persistência.
Carlos:19

1968
Neste vinho impressiona a potência e complexidade.
Muitas especiarias, aroma a tabaco. Na boca é mais gordo, muita potência e intensidade, mas com uma acidez e frescura que suporta muito bem toda essa intensidade.
Vinho excelente
Carlos: 18.5

1963
Vinho fabuloso! Concilia potência e equilíbrio de forma fantástica.
Se não soubesse que estava a provar um 63 daría-lhe menos uns 20 anos.
No nariz é uma explosão aromática. Frutos secos, especiarias, caramelo.
Boca muito complexa, untuoso e muito fresco. Final interminável. Talvez o segundo vinho que mais gostei na prova
Carlos: 19.5

1937
Um vinho muito diferente dos restante, visto ter já 30 anos em garrafa.
Estes anos em garrafa deram-lhe uma elegância sem par nos outros colheitas.
Vinho muito fresco, notas a laranja cristalizada, caramelo, com uma boca muito delicada, grande frescura e acidez. Final muito longo.
Um estilo de que fiquei fã, mostra que um bom colheita pode evoluir, e bem em garrafa.
Vinho fantástico.
Carlos: 19

1910
Já muito tinha lido sobre este vinho, quando do seu engarrafamento para comemorar o centenário da república, e o que posso dizer é que foi talvez o melhor vinho que já provei até hoje.
Tem uma cor já castanho escuro, brilhante.
Ao chegar o copo ao nariz mostra uma complexidade aromática invulgar. Impossível de descrever tudo o que passa pelo nariz. A cada minuto que passa surgem novos aromas e novas camadas de complexidade. Resinas, fruta cristalizada, especiarias, balsâmicos... impossível descrever tudo.
Muito gordo na boca, com uma frescura impressionante e depois parece que não termina. É um vinho sempre em crescendo.
Absolutamente incrível.
Carlos: 20

1900
Aqui já não queria saber de muito. 1900! O que dizer de um vinho de 1900!?
Aroma incrível, a melaço, resinas, especiarias, caramelo. Fica no entanto batido pelo 1910 em termos de frescura e elegância.
Muito gordo na boca, mas com uma excelente acidez, que indica poder ainda viver por bastante mais tempo. Muito guloso e final muito longo.
É uma vinho em grande forma para a idade, tenso sido apenas prejudicado por ter sido provado após o 1910. Sem o vinho anterior teria com certeza brilhado a maior altura.
Carlos: 19.5

Em resumo, uma prova inequecível, com colheitas para todos os gostos.
Na minha opinião, o grande vinho da prova foi o 1910, com uma complexidade, potencia, elegância e equilíbrio difíceis de igualar. Um vinho perfeito.
Logo a seguir viria o 1963. Olhando a potência, o ganhador seria certamente ele. É um grande vinho, e será talvez capaz de envelhecer com a majestade do 1910, ou até superá-lo.
Infelizmente já não se encontra à venda.
Não menos interessante é o 1900. Provar um vinho com mais de 100 anos é uma experiência única.

Resta-me deixar um agradecimento à Andresen, por ter tornado possível uma prova deste nível, com vinhos que são muitos deles verdadeiras raridades.

Carlos Amaro

1 comentário:

Frederico Santos disse...

De facto uma prova inesquecível.
Acrescentaria apenas que achei que os aromas de resina se sobrepunham em todos os vinhos à excepção do 1937, talvez por serem recém-engarrafados. Mas eram todos vinhos excepcionais, sobretudo o 1910.