Foi no dia 20 de Janeiro de 2011 que nos deslocámos à Herdade das Servas, perto de Estremoz, para uma apresentação vertical dos seus monovarietais de Touriga Nacional, desde 2003 a 2008 (excepto 2007), o convite incluia transporte do Porto, e pratos assinados pelo chef Augusto Gemelli especialmente para cada vinho. Irrecusável.
Esta casa, apesar de ter a tradição de várias gerações ligadas ao vinho, apenas a partir de 1999 se lançou no mercado com esta marca. Desde então os vinhos Herdade das Servas têm-se afirmado de forma sustentada no mercado pela sua qualidade consistente de ano para ano, cobrindo já uma vasta gama, mas ainda à procura do seu vinho de topo, que nos confessaram que ainda não encontraram apesar de até já ter marca definida.
Esta atitude de insatisfação perante a qualidade dos seus vinhos, procurando sempre fazer melhor, explica o sucesso deste grande projecto que gere já cerca de 200 ha de vinha.
A adega, situada na Herdade das Servas está equipada com a mais moderna tecnologia, dando origem a tintos, brancos e rosés, sob as marcas Herdade das Servas, Monte das Servas e Vinha das Servas. Têm plantadas uma grande variedade de castas, variedade essa aumentada com numa nova vinha de 2007.
São quinze as castas plantadas actualmente: nove tintas (Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Aragonez, Castelão, Petit Verdot, Syrah, Touriga Nacional, Trincadeira e Vinhão) e seis brancas (Alvarinho, Antão Vaz, Arinto, Rabo de Ovelha, Roupeiro e Semillon).
Após uma longa viagem, mais rápida que o esperado, fomos os primeiros a chegar por volta das 11 da manhã e fomos muito bem recebidos por Luis Mira, a quem mais tarde se juntaram o irmão Carlos Mira e o enólogo Tiago Garcia.
Esperámos um pouco que chegasse o pessoal de Lisboa, enquanto aproveitávamos a paisagem relaxante do Alentejo, por entre talhas e oliveiras centenárias.
Após a chegada de todos, serviram umas tapas alentejanas, de bom chouriço e queijo, acompanhadas com o vinho Monte das Servas Branco Colheita Seleccionada 2009.
Agradou muito este branco, com nariz intenso e frutado. Na boca estava muito bem equilibrado, intenso e elegante, com um final persistente.
É feito com 70% de Roupeiro de vinhas com 55 anos, e mais 3 castas, 10% de cada. Julgamos que estas castas adicionais vão variando de ano para ano, tendo ficado a impressão de que são muito abertos a experiências com outras uvas, apesar de darem prioridade às castas nacionais típicas da região. Logo à entrada têm um canteiro com um cordão rotulado de cada casta, onde ficámos surpreendidos por encontrar a uva Alvarinho tão a sul.
Seguiu-se uma visita à adega, onde se via muito equipamento em inox, desde os lagares, as cubas, o tapete rolante para separação das uvas, os passadiços, enfim, uma adega muito bem equipada. Fomos à cave, onde repousam as pipas de boa madeira. Passámos ainda pela secção de engarrafamento que estava a funcionar em pleno, com 3 ou 4 pessoas de volta da máquina a controlar manualmente todo o processo apesar da máquina ser bastante automática.
Após esta visita às instalações, seguiu-se o almoço, que teve uma apresentação prévia de Augusto Gemelli, que com a sua presença imponente explicou à audiência atenta os pratos que ia apresentar para cada vinho.
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TN 2003
Carpaccio de espadarte marinado sobre creme de grão de bico ao cominho, tomatinhos no forno e azeite de rucola
Frederico Santos - 17
- côr carregada e opaca, dificil dizer se é granada ou ruby
- nariz frutado qb, algo vegetal, tabaco
- boca redonda e cheia, elegante
- final longo
- não esperar muito no copo
Carlos Amaro -17
Aroma floral, à Touriga Nacional, com grande intensidade. Fruta e especiarias, chocolate preto , e um toque vegetal dão ao nariz bastante complexidade.
Boca elegante, frutos vermelhos, especiarias, floral e novamente notas verdes. Final longo e um pouco apimentado. Penalizado apenas por algum excesso de álcool no final de boca.
Acompanhou de modo excelente e surpreendente o carpaccio de espadarte, com o creme de grão a fazer o contraponto necessário ao vinho.
TN 2004
Polvo Caramelizado e fumado em cama de "pappa" de tomate e hortelã, perfume de trufa branca
Frederico Santos - 17,5
- côr opaca, equivalente ao primeiro
- nariz floral, menos complexo
- muito bom na boca, com menos alcool, bom final
- após uns minutos o nariz melhorou
Carlos Amaro - 17,5
Mais fechado ao inicio do que o 2003, mas depois abre-se num belíssimo floral. Fruta e especiarias aparecem de seguida, mais um fundo vegetal.
Boca excelente, com fruta madura, equilibrado, excelente acidez a dar o equilíbrio certo. Muito fresco. Final de extrema elegância e muito longo.
Para mim o melhor vinho em prova.
TN 2005
Ravioli de massa de espinafres recheados com farinheira de presunto e azeitona, espelho de "pesto" de manjericão e queijo Pecorino jovem
Frederico Santos - 16,5
- côr opaca com tons de violeta
- nariz muito frutado
- boca redonda e correcta
- final prolongado
Carlos Amaro - 16
Aroma muito fresco, focado nas componentes vegetais. Frutos vermelhos e chocolate de leite.
Boca mais quente, frutos do bosque, especiarias. Bom comprimento de boca. De todos os vinhos foi o que menos me pareceu Touriga Nacional. Taninos mais duros, mas bem integrados.
TN 2006
Lombinho de Porco corado na salva com "risotto" de barriga fumada, batata nova e alecrim
Frederico Santos - 17,5
- côr roxa opaca
- nariz complexo, aromas herbáceos
- boca redonda e muito equilibrada
- deixa boa recordação
Carlos Amaro - 16,5
Muito vegetal, mais contido no nariz. Floral, especiarias.
Taninos bem presentes, boa acidez, chocolate, frutos vermelhos, muito vegetal na boca, noz moscada.
Ainda algo fechado, mas prometedor
Mário Rui Costa - 16,5
Finalmente degustei a garrafa que os meus amigos me trouxeram da HS. Apenas como complemento das vossas notas, realçava que o nariz não sendo muito aberto é no entanto muito bem definido dando grande agrado, se dermos a atenção devida à prova olfactiva. Na boca concordo em pleno com a nota do Carlos, principalmente nas notas vegetais conjugadas com algum fruto vermelho (menos presente que o vegetal), tudo temperado com notas de noz moscada, que predomina no fim de boca e acaba por ficar como o paladar dominante deste vinho. Eu aprecio, mas quem não gostar de noz moscada não acredito que goste deste vinho :-)
Mário Rui Costa - 16,5
Finalmente degustei a garrafa que os meus amigos me trouxeram da HS. Apenas como complemento das vossas notas, realçava que o nariz não sendo muito aberto é no entanto muito bem definido dando grande agrado, se dermos a atenção devida à prova olfactiva. Na boca concordo em pleno com a nota do Carlos, principalmente nas notas vegetais conjugadas com algum fruto vermelho (menos presente que o vegetal), tudo temperado com notas de noz moscada, que predomina no fim de boca e acaba por ficar como o paladar dominante deste vinho. Eu aprecio, mas quem não gostar de noz moscada não acredito que goste deste vinho :-)
TN 2008
Frederico Santos - 16,5
- côr violeta carregada
- nariz frutado, vegetal
- boca equilibrada, ligeiro tanino
- precisa de mais tempo em garrafa
Carlos Amaro - 17
Este vinho ainda não está no mercado, mas gostei muito, está muito prometedor.
Cor lindíssima violeta. Aroma muito fechado inicialmente, mas nota-se algum floral, frutas e especiarias.
Frutos do bosque na boca, vegetal, especiarias, aromas de bosque.
Taninos ainda por polir, mas promete muito.
Para sobremesa, comeu-se um Bolinho de maçã e caril com molho de caramelo e chocolate branco, que foi acompanhado por um simpático Licoroso Herdade das Servas.
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Muito bons vinhos, intensos e elegantes, carnudos, não hesitei em pontuá-los com cerca de 17 na escala de 1 a 20. Só não dando mais por não ser grande apreciador de touriga nacional na versão monocasta, cujos vinhos tendem ser um pouco frutados demais para o meu gosto. Mas estes apresentaram-se muito equilibrados e bem conseguidos, e com muita juventude contrariando a crença de que os vinhos alentejanos não têm potencial de envelhecimento. Incrível a côr do de 2003, já a caminho dos 8 anos parece a côr de um vinho bastante mais jovem.
Fiquei com vontade de provar os reservas, que para além da touriga, levam também alicante e outras. Será uma boa desculpa para lá voltar.
Frederico Santos
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Em conclusão, um excelente dia de provas, com belos vinhos a acompanhar um grande almoço.
Provou-se aqui que a Touriga Nacional também consegue ter excelente qualidade no Alentejo. Vinhos potentes, carnudos, muito gulosos. Preços bastante sensatos.
O 2003 e 2004 surpreenderam-me especialmente, pela qualidade que apresentam agora.
O 2008, ainda muito novo, mostra grande potencial.
Fiquei com vontade de voltar a esta Herdade das Servas, e provar mais alguns dos seus vinhos.
Carlos Amaro
2 comentários:
Uuuuiiiiii, que dor de cotovelo....uuuiiiii.
Lamentavelmente não pude mesmo ir. Agradeço do coração aos meus amigalhaços e co-autores deste blog a prendinha que me trouxeram.
Quando a provar vou também postar...
MRC
Foi realmente um belo dia. Os vinhos e a comida estavam excelentes.
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