domingo, 13 de março de 2011

CHANSON PÈRE & FILS - BORGONHA O TERROIR DOS MELHORES BRANCOS DO MUNDO

Mais uma prova inserida na Essência de Vinho, neste caso uma prova de brancos da Borgonha, da casa Chanson Père & Fils.
Não conhecia nada dos vinhos desta casa, adquirida em 1999 pela Bollinger, mas o que posso dizer é que esta prova foi um excelente final para a Essência.
Grandes vinhos que me deixaram com vontade de conhecer ainda mais sobre a Borgonha e sobre este produtor em particular.

Os vinhos da Borgonha dividem-se em 4 classificações, que são as seguintes, ordenadas em crescendo na qualidade:
- Regional: Vinhos que podem levar uvas de toda a região da Borgonha.
- Village (ou Comunal): vinhos feitos com uvas de uma localidade especifica, e que podem ter uvas de várias vinhas diferentes, ou só de uma vinha sem classificação
- Premier Cru: vinhos produzidos de uma vinha especifica, que tenha a classificação de 1er Cru
- Grand Cru: produzidos de vinhas com a classificação Grand Cru, é a qualidade mais alta e representa apenas 2% do vinho produzido

Nos vinhos da Chanson, 25% da produção é garantida por vinhas próprias, sendo o resto adquirido a pequenos produtores do rendilhado que é a vinha na Borgonha.
É um produtor de média dimensão, com uma produção de 900000 garrafas/ano distribuidas por cerca de 130 referências.
Os vinhos foram provados em 4 flights, cada um com um par de vinhos de uma mesma zona.
Todos os vinhos eram 100% Chardonnay, como é tradicional na Borgonha.

1º flight:
Chablis 2008
Grande acidez no ataque de boca, alguma fruta e muita mineralidade. Vinho pouco marcado pela madeira, é muito fresco. Belo final.

Chablis Montmains Premier Cru 2008
Notas herbáceas no nariz e aromas a citrinos. Na boca é ainda mais mineral que o vinho anterior. Maior complexidade e final longo. Muito bom vinho.

2º flight:
Mersault 2007
Aroma mais gordo, com a madeira a fazer-se notar mais, fruta, especiarias. Gordo também na boca, amanteigado, mas mesmo assim continua com uma frescura dada pela bela acidez e mineralidade.
Muito volume na boca, é muito persistente.

Mersault Perrieres premier cru 2007
Nariz fantástico, mineral, fruta madura. Ainda um pouco fechado pela sua juventude, mas nota-se já o grande vinho que é.
Grande elegância, acompanhada por uma mineralidade e frescura fantásticas. Final muito longo.

3º flight:
Puligny Montrachet Les Champs Gain Premier Cru 2004
Aqui entramos em vinhos já com idades em que começam a mostrar o melhor da Borgonha.
Aroma muitíssimo sedutor, fruta cristalizada, especiarias, tostados da madeira.
Enorme volume de boca, é encorpado, amanteigado, e o incrível é que não perde nunca a frescura. Grande final.
Adorei este vinho.

Puligny Montrachet Hameau de Blagny 2004
Esta vinho dita apenas 30 metros da vinha anterior, e no entanto as diferenças são notórias, o que mostra a particularidade da Borgonha.
Comparado com o anterior é mais mineral, com notas de espargos, alcaparras. Menos gordo, madeira a mostrar-se menos. Belíssima frescura e um comprimento de boca enorme.

4º flight:
Chassagne Montrachet Clos de St Jean Premier Cru 2007
Nariz muito fechado, pela sua juventude. Bastante vegetal, acidez muito viva.
Na boca tem bom volume, notas de citrinos e bela acidez. É muito elegante e termina longo.
Precisa de alguns anos para mostrar todo o potencial.

Chassagne Montrachet Clos de St Jean Premier Cru 2004
Vinho enorme.
Aromas a brioche,quase como um champanhe velho, fruta cozida, mas também muito mineral.
Grande estrutura, untuoso. Um corpo de veludo apoiado numa frescura e mineralidade fantásticas. Termina muito longo, talvez o mais longo em prova.
Para mim foi o vinho favorito.

Como informação adicional. os preços dos vinhos provados situavam-se entre os 15€ e 25€ para os Chablis, depois sobe para os 30€ no Mersault, e todos os outros Premier Cru andam à volta dos 46€ (excepção do Perrieres que custa perto de 60€).
São preços que não sendo propriamente baratos, pela qualidade apresentada penso que vale bem a pena um esforço para ter alguns deste vinhos na garrafeira.

Carlos Amaro

sábado, 12 de março de 2011

ANDRESEN - Prova Vertical de Colheitas Inesquecíveis

1997, 1995, 1992, 1991, 1982, 1980, 1975, 1970, 1968, 1963, 1937, 1919, 1900...

Este post foi dos mais dificeis de escrever até hoje. Comecei e recomecei uma série de vezes e nunca me parecia bem.
A dificuldade criou-se porque numa prova desta qualidade torna-se dificil descrever tudo o que foi provado e sentido. Foi algo realmente inesquecível.

A prova foi efectuada no dia 5/03 durante a Essência do Vinho, na sala dos retratos. Deste blog estivemos presentes eu e o Frederico.

Fui para esta prova com expectativas muito elevadas e com a noção de que dificilmente voltaria a ter oportunidade de provar muitos destes vinhos, já que vários sendo autênticas raridades, ficam fora de alcance da maioria das bolsas.
E o que posso dizer é que as expectativas foram mais do que superadas. Na realidade foi um turbilhão de experiências gustativas que fica na memória e torna-se difícil de descrever.

Passando aos vinhos, segue a descrição possível.
De notar apenas que todos os vinhos foram engarrafados para o evento, com excepção do 1937, que foi engarrafado em 1980.
São assim vinhos que têm todos estes anos passados em barrica.

1997
É um colheita ainda muito novo, não tendo ainda muitas das características típicas de um tawny com idade. Aroma com alguns frutos secos, apresentando ainda notas de compota, alguma fruta fresca e notas balsâmicas.
Está muito vigoroso e fresco. Na minha opinião mostra qualidades que permitirão vir a ser um grande colheita.
Carlos:17

1995
Menos exuberante do que o anterior, é um vinho com grande elegância e frescura.
Aromas a frutos secos, casca de laranja e algum floral. Notas iodadas. Final longo.
Carlos: 16.5

1992
Aqui já começam a surgir as características mais típicas dos colheitas. Notas iodadas, frutos secos, nozes, bela acidez, a dar-lhe frescura.
Algum caramelo na boca, com notas balsâmicas a ajudarem à complexidade. Muito bom.
Carlos:17

1991
A complexidade aromática continua a subir. Os frutos secos estão lá, mais notas balsâmicas, casca de laranja.
Muito glicenerado, excelente acidez, é um vinho extremamente elegante, com grande volume de boca. Grande final.
Muito bom vinho. O que gostei mais dos da década de 90.
Carlos: 17.5

1982
Mais um vinho de grande elegância, notas dominantes de frutos secos, notas de mel e especiarias. Muito boa acidez.
Vinho muito apelativo e fresco, final longo.
Carlos:17

1980
Daqui para frente os tons de cor começam a ficar mais acastanhados.
Aroma muito vivo, notas de caramelo e especiarias, frutos secos. Muito sedutor.
Grande boca, untuoso, quase mastigável. Enorme estrutura. Muito fresco e com um longo final.
Carlos: 18

1975
Adorei este vinho. O mais elegante de todos em prova (talvez tirando o 37).
Muito boa acidez, delicado, floral, laranja cristalizada e frutos secos.
Final longo, e elegantíssimo.
Carlos: 18

1970
A partir daqui é que as coisas começam mesmo a ficar especiais. Vinho fantástico. Já mais escuro na cor.
Bastante exuberante e apelativo no nariz, com notas de caramelo e frutos cristalizados.
Boca fantástica, muito potente, grande estrutura e muito guloso. Grande persistência.
Carlos:19

1968
Neste vinho impressiona a potência e complexidade.
Muitas especiarias, aroma a tabaco. Na boca é mais gordo, muita potência e intensidade, mas com uma acidez e frescura que suporta muito bem toda essa intensidade.
Vinho excelente
Carlos: 18.5

1963
Vinho fabuloso! Concilia potência e equilíbrio de forma fantástica.
Se não soubesse que estava a provar um 63 daría-lhe menos uns 20 anos.
No nariz é uma explosão aromática. Frutos secos, especiarias, caramelo.
Boca muito complexa, untuoso e muito fresco. Final interminável. Talvez o segundo vinho que mais gostei na prova
Carlos: 19.5

1937
Um vinho muito diferente dos restante, visto ter já 30 anos em garrafa.
Estes anos em garrafa deram-lhe uma elegância sem par nos outros colheitas.
Vinho muito fresco, notas a laranja cristalizada, caramelo, com uma boca muito delicada, grande frescura e acidez. Final muito longo.
Um estilo de que fiquei fã, mostra que um bom colheita pode evoluir, e bem em garrafa.
Vinho fantástico.
Carlos: 19

1910
Já muito tinha lido sobre este vinho, quando do seu engarrafamento para comemorar o centenário da república, e o que posso dizer é que foi talvez o melhor vinho que já provei até hoje.
Tem uma cor já castanho escuro, brilhante.
Ao chegar o copo ao nariz mostra uma complexidade aromática invulgar. Impossível de descrever tudo o que passa pelo nariz. A cada minuto que passa surgem novos aromas e novas camadas de complexidade. Resinas, fruta cristalizada, especiarias, balsâmicos... impossível descrever tudo.
Muito gordo na boca, com uma frescura impressionante e depois parece que não termina. É um vinho sempre em crescendo.
Absolutamente incrível.
Carlos: 20

1900
Aqui já não queria saber de muito. 1900! O que dizer de um vinho de 1900!?
Aroma incrível, a melaço, resinas, especiarias, caramelo. Fica no entanto batido pelo 1910 em termos de frescura e elegância.
Muito gordo na boca, mas com uma excelente acidez, que indica poder ainda viver por bastante mais tempo. Muito guloso e final muito longo.
É uma vinho em grande forma para a idade, tenso sido apenas prejudicado por ter sido provado após o 1910. Sem o vinho anterior teria com certeza brilhado a maior altura.
Carlos: 19.5

Em resumo, uma prova inequecível, com colheitas para todos os gostos.
Na minha opinião, o grande vinho da prova foi o 1910, com uma complexidade, potencia, elegância e equilíbrio difíceis de igualar. Um vinho perfeito.
Logo a seguir viria o 1963. Olhando a potência, o ganhador seria certamente ele. É um grande vinho, e será talvez capaz de envelhecer com a majestade do 1910, ou até superá-lo.
Infelizmente já não se encontra à venda.
Não menos interessante é o 1900. Provar um vinho com mais de 100 anos é uma experiência única.

Resta-me deixar um agradecimento à Andresen, por ter tornado possível uma prova deste nível, com vinhos que são muitos deles verdadeiras raridades.

Carlos Amaro

sexta-feira, 4 de março de 2011

Espumantes tintos - Lampreia nas Bágeiras

Foi no dia 4 de Março que nos deslocámos à Quinta das Bágeiras, para um jantar de lampreia cozinhada pelo sr. Simões.
Aproveitámos para fazer uma pequena prova de espumantes tintos, coisa que raramente temos oportunidade de beber.
A lampreia estava óptima, talvez a melhor que já comi, sendo o arroz de cabidela feito à parte, juntavam-se as postas de lampreia já cozinhadas no prato, para não ficarem empapadas na cozedura do arroz. Para sobremesa ainda tivemos direito a um gelado caseiro delicioso, acompanhado pelo abafado da casa que está cada vez melhor.
Quanto aos cinco espumantes tintos que acompanharam muito bem o arroz de lampreia, confesso que tive muita dificuldade em pontuá-los por falta de referências, mas o principal era mesmo a lampreia e o convívio, sendo a prova vínica apenas uma desculpa para ficarmos a conhecer melhor alguns espumantes tintos.

A média de pontuações atribuída pelos 10 votantes foi:
  • 15,25 - Terras do Demo 2008
  • 14,7 - Quinta das Bágeiras 2006
  • 14,68 - Quinta da Mata Fidalga 2008
  • 14,56 - Murganheira 2006
  • 13,31 - Sidónio de Sousa 1999
No geral, agradou mais o Terras do Demo, um espumante feito de Touriga Franca, e agradou menos o Sidónio de Sousa, feito de Baga.
Pessoalmente, gostei mais do Sidónio e do Bágeiras que eram mais brutos, sabiam mais a vinho. O Murganheira e o QMF eram mais elegantes, e o Terras do Demo era mais intenso mas demasiado frutado para o meu gosto.

Foi um belíssimo jantar, muito bem disposto, e sempre ficámos a conhecer mais uns vinhos.
Ficou prometido para breve um robalo assado, que vai servir de desculpa para uma prova de brancos do Dão. Também se falou num coelho com amêndoas, que não perderá pela demora. Quando fôr o sr. Simões a cozinhar podem sempre contar comigo.

Frederico Santos

quinta-feira, 3 de março de 2011

Vertical de Chryseia

Foi na abertura da Essência do Vinho 2011, no dia 3 de Março, que participei nesta prova vertical de Chryseia, realizada no salão árabe do Palácio da Bolsa, com a apresentação de Charles Symington e Bruno Prats.
O nome Chryseia vem do grego antigo, onde significa douro ou dourado. É portanto um vinho tinto do Douro, feito com uvas seleccionadas das muitas propriedades da família Symington, ligada ao vinho do porto há muitas gerações. É este leque de boas vinhas aliado à enologia de Bordéus da família Prats que o torna um vinho único e emblemático.
Tratam-se de vinhos muito completos e de grande afinação, que estagiam em pipas grandes (400L) de madeira nova (carvalho francês), e cujas castas principais são a Touriga Franca e a Touriga Nacional.
A determinada altura foi feita a comparação por Bruno Prats, entre o par Cabernet Sauvignon e Merlot de Bordéus, com o par Touriga Franca e Touriga Nacional do Douro.
A prova foi apresentada em inglês, e foram servidos os vinhos de 2001 a 2008 (excepto 2002).

Chryseia 2001
Côr ruby clara, nariz discreto e complexo, herbáceo, algo químico.
Boca suave e elegante, ainda muito fresca.
Este levou 31% de Tinta Roriz, casta esta que não voltou a ser usada no vinho nas suas edições posteriores.

Chryseia 2003
Côr ligeiramente mais carregada, mas ainda suave.
Nariz equivalente, mas ligeiramente mais frutado.
Boca mais elegante.
Final muito longo.
Levou 60% de Touriga Franca, uma uva difícil de amadurecer que só foi vindimada em Outubro.

Chryseia 2004
Côr equivalente ao anterior.
Nariz no mesmo registo, mas com ligeiro chocolate.
Na boca apresentou mais estrutura e potencial de envelhecimento.
Final muito persistente.

Chryseia 2005
Côr equivalente ao anterior.
Nariz mais especiado.
Boca ligeiramente mais frutada e redonda.
Menos taninos que o anterior, mas ainda presentes.
Final longo.
Foram introduzidas neste vinho pela primeira vez uvas da Quinta da Perdiz, cerca de 40%.

Chryseia 2006
Côr equivalente.
Nariz mais complexo que os anteriores, especiarias, chocolate.
Boca ligeiramente taninosa, mas suave, equivalente ao 2004.
Final muito longo.
As uvas usadas neste vinho vieram quase todas da Quinta do Vesúvio.

Chryseia 2007
Côr equivalente.
Nariz mais achocolatado, couro, cogumelos.
Boca mais redonda, com ligeiro picante no final muito longo.
Foi comentado pelo enólogo que as uvas neste ano ficaram perfeitamente amadurecidas, o que tornou este vinho muito rico.

Chryseia 2008
Côr ligeiramente mais carregada que o anterior.
Nariz menos espectacular mas mais elegante, especiado.
Boca voltando ao registo químico dos primeiros anos, de grande equilíbrio.
Final longuíssimo.

Todos os vinhos estavam num patamar de qualidade muito elevado, sendo apenas uma questão de gosto decidir se um é melhor que o outro. Daria a todos uma pontuação entre 18 e 18,5.
Também de salientar que os vinhos mais recentes me agradaram ligeiramente mais que os primeiros, o que me faz crer que o vinho está cada vez melhor de ano para ano.
Se tivesse de escolher um talvez fosse o 2006, que tinha qualquer coisa que o distinguia pela positiva, embora 2007 e 2008 também sejam vinhos que me entusiasmaram muito.

Frederico Santos