sábado, 9 de novembro de 2013

Ramos Pinto - Prova especial de vintages - ECVS 2013

Foi no Encontro Com o Vinho e Sabores 2013, no Centro de Congressos de Lisboa, que tive oportunidade de participar nesta prova da casa Ramos Pinto, a que estava associado o lançamento do livro "Adriano Ramos Pinto - Vinhos e Arte", um trabalho de pesquisa na documentação histórica da casa, recuperando obras de arte publicitária, que foram compiladas nesta edição de grande qualidade fotográfica.
Ramos Pinto dispensa grandes apresentações, é uma casa portuguesa fundada em 1880, com história no Brasil desde o início do século passado. O fundador Adriano tinha formação de artes, o que influenciou muito a publicidade tão característica desta casa, bem como o seu espirito "avant-garde" inovador para a época.
Esta prova foi apresentada por João Nicolau de Almeida, atual administrador-delegado, que foi contando memórias da casa Ramos Pinto associadas ao ano de cada vinho apresentado.

Seguem algumas notas pessoais dos vinhos:

1912
Vinho associado aos tempos conturbados da implantação da república, e da expansão da casa para o Brasil.
- ligeiro depósito
- côr acastanhada
- nariz muito complexo, especiarias, frutos secos, mas discreto
- na boca é sedoso, mas ainda com garra, vinagrinho
- final enorme

1922
Gago Coutinho e Sacadura Cabral aterram no Brasil. Tendo levado uma garrafa de Ramos Pinto na viagem, gostaram tanto do vinho que a autografaram e devolveram às caves, estando hoje essa garrafa exposta no museu da casa.
- menos depósito, mas algum
- côr acastanhada
- nariz complexo e intenso, frutos secos, passas, iodo
- na boca é muito intenso, vinagrinho
- final muito prolongado

1927
Ano da morte de Adriano Ramos Pinto.
Foi comentado por um participante da prova, que este vintage foi lançado no ano da grande recessão (2 anos depois da vindima), e por isso muitas garrafas da exportação teriam sido devolvidas às caves, o que leva ao facto de ainda existirem hoje em dia apesar de se tratar de um vinho fora de série. Uma teoria interessante.
- apresenta depósito
- côr acastanhada
- nariz muito rico, aromas de farmácia, mentolados, iodo, especiarias
- na boca é sublime, sedoso a fazer cócegas na lingua
- final memorável, com ligeiro picante, nunca mais acaba
Para mim o melhor vinho nesta prova.

1934
- côr acastanhada, cerejeira
- frutos secos e algumas resinas no nariz
- na boca é acetinado, tudo no sitio
- final muito longo e agradável

1983
Execução do projeto de seleção de 5 castas recomendadas para o Douro, numa altura em que não se conheciam as uvas que haviam nas vinhas velhas nem havia meios científicos e humanos à disposição para as identificar a todas. Partiram de uma seleção de 12, e obtiveram 5: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Touriga Francesa, Tinto Cão. Selecionadas para plantação de 2500 ha de vinha.
Este vinho é um blend dessas 5 castas (onde a Tinto Cão é residual), que foram vinificadas em tonéis separados, com uvas provenientes da Quinta da Ervamoira.
É também a altura em que surge a Universidade em Vila Real, de onde sairam gerações de enólogos que mudaram completamente o panorama vínico nacional, apostando em vinhos de qualidade feitos com tecnologia avançada.
- côr ruby esbatida
- nariz complexo, refinado
- enche a boca, redondo
- final muito persistente

1995
A casa Ramos Pinto foi comprada pela casa de champanhe Roederer, mantendo a administração local, com respeito a todas as tradições de família, uma vez que a casa Roederer é também um negócio de família.
- côr ruby
- nariz complexo, frutos silvestres, especiarias
- volumoso na boca com final moderado
- muito concentrado, fruta de ano quente

2011
Ano de declaração geral de vintage. Novo rótulo nas garrafas com fundo branco.
- côr retinta
- nariz muito intenso, cerejas em calda
- na boca é muito redondo e volumoso
- final persistente, a deixar boa recordação


Todos os vinhos eram excelentes, tendo-se destacado o 1927 que está um vinho fenomenal, muito rico de aromas e com um final interminável.
Foi ainda referido que os vinhos provados até ao 1934 foram feitos com uvas provenientes da Quinta do Bom Retiro, e quintas vizinhas. Sendo que a partir do 1983 foram feitos com uvas provenientes da Quinta da Ervamoira.

Frederico Santos