terça-feira, 14 de setembro de 2010

Viagem a Champagne e Alsace


Estas férias proporcionou-se uma estadia de uma semana no nordeste de França. Aproveitámos umas milhas acumuladas e arranjámos uns voos para Paris - Orly, onde alugámos um carrito económico a gasóleo, um Corsa 1.3 que não gastava mais de 5 litros aos 100 (bebia menos que eu).
Apanhámos a A4 e seguimos para Épernay, no coração de Champagne, junto ao rio Marne. Uma bonita cidade cuja vida se desenrola em torno de um dos vinhos mais famosos do mundo. Foi com alguma emoção que passeei pela "Avenue de Champagne" sabendo que por baixo dos meus pés se acumulavam alguns milhões de litros do precioso líquido. Dizem que tem 100 km de caves, onde as garrafas repousam vários anos antes de sair para o mercado. Apenas passámos lá duas noites, e tivemos um dia para passear por entre vinhas com uma paragem em Reims a norte e uma visita ao farol de Verzenay. Não houve tempo para grandes provas, e acabámos por visitar dois pequenos produtores.
Fomos às caves Gaston Chiquet em Dizy, pois havia lá um concerto de uma mistura de rock com chanson française, que foi bastante engraçado. Este produtor tem a particularidade de usar vinhas de Chardonnay plantadas a norte do Marne, coisa que não é muito comum pois a Côte des Blancs estende-se na margem sul, e é daí que normalmente vêm as uvas brancas usadas no espumante. Eram vinhos com grande acidez, mas nada que entusiasmasse muito.
Já a caminho da Alsácia, parámos em Ambonnay para visitar o produtor Egly-Ouriet, que no guia 2011 da RVF vinha com 3 estrelas, e muito boas críticas, ao nível de grandes casas como Bollinger e Krug. Gostei muito do "Brut Grand Cru Tradition" que custava uns acessíveis 28 euros. Os millésime eram fantásticos e valiam bem os 60 euros, pois nas grandes casas de champagne custam pelo menos o dobro. Grandes vinhos, com boa acidez, e um bouquet delicado e complexo. São vinhos com grande capacidade de evolução, podendo ser guardados durante décadas.

Atravessámos a província de Lorraine directamente para a Alsace, onde ficámos 4 noites em Rorschwihr, uma pequena aldeia um pouco a norte de cidade de Colmar, no coração desta região vínicola. Alugámos uma "gite", que era um segundo andar de uma casa, muito cómodo e bem equipado. Tinha uma varanda que dava para a adega de Rolly Gassman, com a encosta de vinhas por trás, e ao fundo o sobranceiro chateau de Koenigsburg. Uma paisagem magnífica.
A região é óptima para passear, mas os nomes das povoações são quase impronunciáveis, existindo muitas aldeias típicas medievais muito bem preservadas, com as suas casas coloridas com grandes traves de madeira. É uma mistura curiosa de cultura francesa com alemã, manifestando-se na culinária com pratos típicos como chucrute, foie-gras en croute, tartes flambées, enfim, um não acabar de coisas boas, regadas com o óptimo vinho branco da região.
Os vinhos alsacianos são regra geral monocasta, sendo os Grand Crus feitos com quatro castas nobres: Riesling, Muscat, Pinot Gris, e Gewurztraminer. Têm ainda dois estilos de vinhos doces, os "vendages tardives" (VT), e os "sélection des grains nobles" (SGN). São também utilizadas outras castas brancas como Pinot Blanc, Sylvaner, e Auxerrois, mas em menor quantidade. Os tintos são de Pinot Noir.

O produtor Albert Boxler, em Niedermorschwihr, tem vinhas velhas (40 anos) em encostas muito íngremes, que constituem a apelação Grand Cru de Sommerberg. Fomos lá visitá-lo com alguma dificuldade em encontrar o local, em busca de vinhos muito bem cotados pela crítica profissional e com óptima relação qualidade preço, mas os melhores Rieslings que custavam uns módicos 20 euros já tinham sido todos vendidos, logo em Janeiro disse-nos a senhora que nos atendeu. Apesar de não termos provado os vinhas velhas, ficámos rendidos à extrema qualidade dos vinhos que tivemos oportunidade de degustar. Apreciei muito o Riesling Jeunes Vignes Grand Cru Sommerberg, de vinhas de 15 anos, com uma acidez brutal, mas bem equilibrada, muito aromático. Um vinho intenso, que custou 15 euros, e pretendo guardar uns anitos. Os Pinot Gris e Gewurztraminer eram mais dóceis, mas também muito bons. Excelente era o colheita tardia de Pinot Gris, uma goludice deliciosamente equilibrada.

Outro produtor que me fascinou foi Rolly Gassman, onde tive oportunidade de provar toda a sua gama de vinhos, até porque ficava ao lado de nossa casa. Este produtor tem a particularidade de lançar vinhos para o mercado passados vários anos do seu engarrafamento, apenas quando acha que estes se encontram prontos para venda. Tem agora à venda muitos da década de 2000, alguns de 99, 97 e 94, e ainda um SGN de 89, e estamos a falar de vinhos brancos.

  • Auxerrois, um vinho dócil e equilibrado, típico da região de Rorschwihr, que dizem ser muito usado em casamentos, por ser tão fácil de agradar e tão barato.
  • Muscat, também algo adocicado, tem um estilo particular que não será muito consensual.
  • Riesling, era bem bom, mas não é a especialidade nesta região.
  • o Pinot Gris Réserve 1997, ainda com uma frescura incrível, e de grande complexidade aromática, é uma maravilha. Não acusa nada os seus 13 anos.
  • Também de destacar o Pinot Gris Vendages Tardives, de qualquer ano, são todos muito bons.
  • o Gewurztraminer, é um pouco no estilo do Pinot Gris, também muito leve e inebriante, mesmo no de 1999 que parece um vinho novo de tão fresco.
  • o que mais gostei foi o Gewurztraminer Sélection des Grains Nobles de 1989. Depois de ter provado 4 ou 5 VT's e outros tantos SGN's, este apresentou-se como o mais intenso e mais equilibrado. Que vinho magnífico. Acabei por comprar o irmão de 1997 que não ficava muito atrás e custava quase metade.
Fiquei muito bem impressionado com a qualidade destes brancos da Alsácia, que se aguentam tantos anos em garrafa sem perder vida. São vinhos com excelente relação qualidade/preço, não entrando nos patamares de preços abusivos da região de Champagne. Além disso, a região da Alsácia é mais bonita e as pessoas mais simpáticas, embora Champagne tenha outro glamour.

Segue uma foto do espólio que consegui enfiar em 2 malas antes de apanhar o avião de volta, não me perguntem como.

Frederico Santos

domingo, 5 de setembro de 2010

Quinta do Monte d´Oiro Madrigal 2006

Penso que terá sido o primeiro vinho Viognier estreme português, e desde que a marca foi lançada no mercado que foi um vinho de que gostei particularmente.
O vinho tem evoluído de colheita para colheita, e a cada nova edição parece-me que caminha no sentido de ser um vinho mais delicado, elegante, com mais fruta.
Esta garrafa de 2006 era a ultima dessa colheita que tinha em casa.
Aroma com fruta melada, alperce, pêra e notas florais. Pastelaria doce, especiarias e com abaunilhados dados pelo estágio em madeira.
Na boca, perdeu já um pouco da acidez que o caracterizava quando mais novo. É um vinho gordo, envolvente, mas parece-me que perdeu alguma elegância e finura, estando talvez demasiado orientado para os sabores abaunilhados, e melados, ainda que mantenha alguma fruta (principalmente alperce), faltando no entanto uma maior acidez para um melhor equilíbrio.
Pode ter sido desta garrafa, mas parece-me que talvez tenha passado um pouco o ponto optimo do consumo, já que me lembro de garrafas anteriores desta colheita de 2006 como um excelente vinho, com boa acidez e mais delicado.
Nota: 15,5

Carlos Amaro